sábado, 25 de setembro de 2010

Guardem o melhor de mim...

Vários sentimentos vagueiam em mim…
A cidade que me acolheu á 19 anos, agora também se despede.
Noto a cidade diferente e até um outro olhar nas pessoas…como que sentissem o meu aperto e como que a desejarem …boa sorte.
A minha casa parece mais silenciosa que nos outros dias, sinto que se “calou”, para me deixar sozinha com as lembranças. Em cada divisão “vejo” histórias, jantares com pessoas animadas, murmúrios de confidências que aqui decorreram…quase que oiço gargalhadas e sorrisos contagiantes, choros de alegria e tristeza… consigo quase sentir abraços e beijos dados por pessoas especiais… visualizo ocasiões ímpares.
Quando fechar esta porta, tudo isto vai permanecer aqui, intacto…são as minhas histórias, e todas agregadas datam quase vinte anos de vida aqui.
Esta cidade deu-me a conhecer pessoas peculiares, transformaram alguns dos meus momentos menos bons em instantes aprazíveis, devido á grandeza de saberem amar. Muitas vezes ouviram os meus choros com nós nas suas gargantas, festejaram comigo aniversários e vitórias, deram-me a mão quando me senti mais frágil, arrancaram sorrisos rasgados a uma pessoa que quase nem sabia rir. Recebi abraços onde a intensidade deles não se decifram…apenas se sentem.
Em Braga algumas destas pessoas, ensinaram-me a não ter medo, disseram-me que chorar não é sinónimo de fraqueza, que dizer “gosto de ti” é fácil de se pronunciar. Cresci interiormente, fiz amizades para toda a vida, ganhei uma “mãe adoptiva”. Aqui fui “” sem nunca ter sido mãe, fui ouvida e admirada, tive sucesso e reconhecimento profissional, tive paixões intempestivas e um amor quase como o primeiro…nesta cidade, tive o privilégio de experienciar intensos sentimentos. Se fechar os olhos, sem um drambuie na mão e mesmo sem dançar…consigo trazer até mim apenas o muito bom que estas pessoas e esta cidade me proporcionaram viver.
O menos bom, serviu para fortalecimento pessoal…de onde tirei imensos ensinamentos.
Sei que nesta viagem, as barragens dos meus olhos vão abrirem-se sem autorização e aliado a tudo isto, uma saudade desmesurada. Mas tenho que seguir a estrada…sou uma guerreira e ninguém me tira esse rótulo. Sei que a tristeza vai invadir todos os recantos do meu ser, mas a destreza do meu pensamento vai impor-se a ela. Sei que o meu coração vai arrombar-me com batidas fortes e desmesuradas, mas a minha inteligência vai ter que calar todos esses ecos indesejáveis. Já vivo comigo há 44 anos, conheço-me bem…e para a nostalgia não se instalar em mim, tenho que superar todas as provas a que me proponho…e a meta é…recomeçar um novo ciclo e vencer mais uma vez.
Nunca gostei de partidas ou despedidas, aprendi que nessas horas não posso olhar para trás, senão é essa a imagem que fica retida em mim…
Desejem-me sorte!
Na minha nova cidade, espero encontrar pessoas especiais tal como encontrei em Braga, vou encher a minha memória de histórias, para um dia juntá-las ás que ficam dentro desta casa. Sinto que aqui fica sempre um livro inacabado, as histórias só têm um fim se quisermos…e aqui o fim não vai existir.
Aqui fui feliz e vou continuar a sê-lo, porque sei que para algumas pessoas vou permanecer viva dentro delas.
Guardem o melhor de mim…

Tila de Oliveira

3 comentários:

  1. Sempre permanecemos vivo no coração de quem tocamos de verdade a alma.
    Você escreve com mestria... Desnudando a alma!

    Um beijo carinhoso

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  2. Obrigada Tatiana, é bom saber que alguém percebe o que escrevemos.
    um beijo.
    Tila de Oliveira

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  3. Olá...
    Hoje convidamos você para fazer uma profunda reflexão em nosso blog. Ao ler o texto da nossa amiga Déia e responder a pergunta final: “E para você? Sua vida tem raros momentos de recomeço? Ou você aproveita as rupturas e entra, quando necessário, em uma nova estrada?”
    Esperamos a sua participação.
    Receba o nosso abraço carinhoso

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