domingo, 5 de abril de 2009

Enfim...drogas.


” A droga é má, porque é fantástica”! Paulo Coelho.

Um gesto como outro qualquer…elevasse a mão em direcção á boca acompanhada de uma substância que nos leva para lugares diferentes.
Uma linha á nossa frente pronta para ser inalada, conduz-nos para lugares que não duram.
Um frasco aberto num canto qualquer e leva-nos por segundos a percorrer espaços escoltados com emoções ao rubro.
A prata acalorada por um isqueiro viciado e já sem cor…o cheiro desapega o corpo da mente como se fossem estranhos…
Na língua um timbre… o passaporte autenticado para outras galáxias.
Um “charro” bem batido, passado de mão em mão, retido de boca em boca…
A relação é amor/ódio! È amor desde o primeiro gesto até ao momento do auge…é um “faz de conta”!
Ódio, quando deixa o sabor amargo a solidão e angustia…ou quando deixa a pulsação a palpitar desmedidamente sem se conseguir controlar…esse é o bater mal de algumas coisas.
O corpo dói e a dor vem acompanhada de ressacas profundas! Todo o corpo se lamenta…e a mente não se organiza! È a oportunidade dela beneficiar das restantes substancias, que ainda planam no cérebro.
Tudo é trémulo, deprimente e negativo! È o preço da droga…este é o seu verdadeiro custo. Tal como concede o mais agradável e belo… o disforme e o angustiante similarmente chega…mas também passa.
Por isso o desejo de recorrer repetidamente á realização dos tais gestos…
Sabemos os prazeres que dá, assim como os desprazeres…mas somos peritos em saber como controlar…basta esperar que desapareça ou consumir mais uma dose…
Se a droga consegue conduzir-nos para sítios transcendentes e inimagináveis, é lógico que em contrapartida quer igualmente presentear um pouco do seu lado fundo, sombrio e horrífico. Tudo tem dois lados… ela também.
Ela distribui os sentimentos além do habitual…é esse o seu propósito.
A partir do instante que se consome, percorre o corpo para alterar tudo…é um prazer fazê-lo! Tudo se torna perfeito...mas é tudo uma ilusão! “As ilusões são perigosas, porque não têm defeitos…” a rigidez dos membros e dos maxilares faz-nos companhia por algum tempo, os dentes rangem numa linguagem só deles, a secura é saciada, a sudação chega transportando calor impróprio.
A noite fica com cor, magia… está completa. Ela fica sócia da beleza e sensualidade. As cores reluzentes combinam com a música, o impossível não existe! Aliado a tudo isto, um desejo de abraçar, beijar… e envolta numa sensualidade despida de inibições.
Não somos nós, somos apenas corpos sem pensamentos isentos de sensibilidades reais, deambulando ao sabor de substâncias que dão prazer ou não durante um tempo limitado…isto é o poder de um simples gesto.
Os meios onde paramos são propícios…é um gesto simples!
Olho um, olho outro e vejo olhares vagos e distantes, ou brilhantes demais! Alucino com fantasmas que me perseguem, vestidos de pessoas reais…
Tenho medo! Nos corredores esguios e escuros vagueiam multidões de pessoas com diversos semblantes e adulterados! Uns riem-se, outros gritam, outros…outros não subsistem, eles apenas existem na cabeça…
Com ela o medo pode também não existir, os pensamentos nascem e morrem rapidamente.

O despertador toca! O inconsciente levou-me a lugares pérfidos.
A minha maior droga é ser viciada na Vida!

Os consumidores de drogas não são apenas os que arrumam carros, que dormem em becos e que pedem dinheiro naquele tempo em que conseguem estar de pé. Como alguém referiu e bem:” Alguns, adoram dançar, têm imensos amigos, trajam com um gosto impecável. Estas substancias são usadas em ambientes de festa, de preferência ao fim de semana, com muito glamour e prazer de viver á mistura. Muitos conseguem ter uma vida equilibrada durante a semana, trabalham ou estudam. Mas á sexta-feira não resistem ao apelo da dança e aproveitarem cada minuto para recorrem ao poder dos químicos.
Surpreendente a quantidade que é consumida e a facilidade de acesso a eles”!


Otilia de Oliveira