sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Um olhar sobre mim...


Um olhar sobre mim...
Abro a janela do meu ser e debruçando-me sobre ele observo um corpo de meia- idade que tenta libertar-se dele próprio.
Procuro ofegantemente a juventude que se afasta visivelmente a paços largos, escapando-se por entre os dedos como se tratasse da mais fina areia....
Apoio os braços no parapeito da minha mente e inclino-me....
Tento passar a pente fino todos os sentimentos que coabitam comigo á anos e que fazem parte integrante do meu ser.
Faço uma retrospectiva e compreendo a importância de reviver momentos....
Recordo e obtenho mais informação sobre a minha mudança. Tento abolir o que não interessa mas sem sucesso, pois mesmo tudo aquilo que é mau se torna importante, eles marcam um tempo, uma época... um momento que acabou por ficar, tornando-se impossível desmoronar até os mais tórridos desgostos ou lamentos...
Varro e limpo resíduos que foram ficando acumulados e entranhados em mim como se de objectos pessoais se tratassem... não, não os consigo destruir! Simplesmente absorvi!
Sem opção, abro uma torneira para agonizar toda a energia negativa que me invade desconsoladamente e energicamente esfrego o meu chão assentado num corpo de meia- idade! Quanto mais lavo mais clarificadas ficam as nódoas e feridas protagonizadas pela puta da vida!
È então aqui onde concluo que tive tendência ao longo da minha vida para repetir os mesmos comportamentos muitas vezes....
Consigo visualizar enumeras rotinas que podiam ser evitadas!
Somos ás vezes umas máquinas onde pouco a pouco perdemos as emoções, os sentimentos... e sofremos! Sofremos porque a vida é sempre igual, ou seja vivemos a querer mudar e ao mesmo tempo lutamos para que tudo continue como está!!!
.... Desço o corrimão do meu corpo e caminho para o degrau numero 38....
Cada degrau simboliza um ano que é constituído por histórias reais, derrotas ou vitórias e sensações! Percorro todas as divisões do meu corpo enlatado de vivências visivelmente abalada pela emoção...
Abro uma janela, outra... e outra! Aproxima-se um vento subtil que me toca e beija, enlaça-me num abraço que se torna familiar.... dei-lhe um nome: ESPERANÇA!
Esperança essa ladeada de força e encorajamento.
Nasce nova áurea em mim e sem temer ouso descer ao degrau numero 20... 20 ANOS!
Sento-me e mastigo por uns segundos esses anos inconsequentes, loucos e gloriosos!
Sinto na boca o sabor a saudade e revitalizo-o pela minha capacidade de visualizar uma data, uma época! Sinto que fiz uma viagem, mas que é incompleta e irreal!
Retorno ao degrau numero 38... este é o meu tempo real!!!
Desenho nesse lugar o meu ano e rasuro os meus desejos, cravo um beijo quente num degrau frio e rugoso mas que inevitavelmente me pertence!
Levanto-me... fecho as janelas, abro a porta e saio sem olhar para trás, acompanhada de um sorriso no rosto! Porquê? Porque aquele vento subtil que me beijou na face, sussurrou-me ao ouvido que a idade só existe no tempo...
Deito fora a chave, acreditando que daqui a 12 meses nos meus 39 anos essa chave continue á minha espera, para sobre mim lançar um novo olhar... neste corpo de meia- idade... mas que é meu!

Tila de Oliveira

15-01-2004