sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Corações...


Nunca consegui executar um coração direito…tens razão! Esboçava-os sempre imperfeitos…
Enquanto que tu, delineava-los bem e exactamente com esse formato…um coração partido! Como tu bem realças, eu questionei inúmeras vezes esse facto.
Quase que posso apreender que um lado dás a desvendar… o outro não! Num flanco, (como tu ousas dizer) tens realidades sadias na outra…veracidades desengraçadas. Ou como proferes, num espaço deixas entrar…no outro nem tão-pouco pretendes dar a conhecer. Depreendo, que dentro do teu centro de emoções subsistem prateleiras, onde arrumas os teus próprios sentimentos e emoções separadamente…conforme a índole deles. Não necessitam estar rotulados, reconhece-los pela gustação amarga ou melosa, pela intensidade ou provavelmente pelos efeitos secundários que deles descende. O tal lado onde resguardas o “intocável e o inacessível”, deixa-los sem luz, sem diálogo sonante e sem qualquer vínculo com o exterior. Aprisionas num recanto, histórias com finais escassos ou exacerbadamente felizes, actos ou feitos mais ou menos mesuráveis, elações muito ou pouco íntegras…só tu o sabes! Só tu palmilhas esse trajecto dispensável de guias ou orientadores.
Enclausuras-te dois lados isoladamente…sem qualquer fusão, como se tratasse de uma dicotomia de sentimentos ou estados…
Se soubesse delinear um coração, ele estaria cheio de caixinhas, nunca repartido…porque não consigo demarcar território dentro dele. Tudo o que vive dentro do meu centro de emoções coabita com as coisas boas, para que as menos benéficas se associem ás benignas. Desta forma progredirem e não se aprisionam dentro de si mesmas.
No fundo, as minhas caixinhas são também minúsculas repartições desenhadas dentro do meu coração, em vez de as armazenar em prateleiras, abrigo-as em gavetas…
Quando a minha imaginação me leva a um coração, ele fica perfeito porque o desenho com o meu pensamento…mas é só desta forma que fica belo.

domingo, 14 de setembro de 2008


Hábitos, usos ou manias…

Diante do meu computador primo uma e outra tecla…
Formo palavras que pouco a pouco se transformam em frases. Em sequência desta junção de letras e palavras transplantadas do pensamento para o meu computador, concebo uma “folha” inundada de desabafos ou simplesmente enunciações onde narro um ou outro acontecimento….
Tenho por hábito escrever apenas com uma mão, a outra… a outra ampara a cabeça ou uso-a para fumar um cigarro. Com os dedos faço com que ele circule em redor deles…são costumes que adquirimos ao longo do tempo.
Todos nós obtemos usos no nosso dia a dia. Empregamos termos que ouvimos por ai, imitamos gestos que vemos alguém fazer, estilos que achamos piada…ou tão-somente inventam-se.
Talvez o comodismo se possa apelidar de hábito, porque não? Familiarizamo-nos com certas atitudes deselegante e ao fim de tentativas sem sucesso baixamos as armas, e lá vamos nós com o tal argumento pouco inteligente e frequente:” oh pá não vale a pena, é o feitio das pessoas…”!
Somos protagonistas dos nossos hábitos por várias razões, mas também somos seres racionais para saber se devemos ou não empregá-los…
Talvez os erros e desculpas imoderadas se possam também intitular de hábitos! Achamos que o facto de se pedir desculpa, justifica os erros cometidos dezenas de vezes…a palavra desculpa usada em demasia não pode ser aceite. Se aprendemos com os erros e tentamos não repeti-los é notável, mas constantemente cair neles é…burrice.
De tantos usos e costumes menos benéficos, aprendemos a não confiar e dai advém os desencantos e as desilusões…que importam consigo um simpatizar muito longínquo do gostar…
A natureza gira em torno do equilíbrio, porque é perfeita…enquanto que o ser humano está longe de ser exemplar! Mas, compete-nos ter uma perspectiva imparcial em relação aos hábitos que obtemos e não inocentar-nos e desculpabilizar-nos constantemente… sobretudo quando temos consciência que povoa em nós uma vitrina de ciclos viciosos.
Aceitar, admitir e não redobrar as nossas lacunas é um acto de humildade…
Um hábito, um costume, um uso ou seja lá o que queiram designar…pode ser lesivo para nós e para os que nos circundam.
A índole que subsiste dentro de nós deve ser preservada, mesmo que se torne num hábito, estilo ou mania…desde que seja seguramente inofensivo e edificante.
O ser humano tem a obrigação de saber que o excessivo se torna fastidioso.


sábado, 6 de setembro de 2008

Para ler apenas...


Deve haver vários propósitos para a nossa existência!
Não andamos aqui, apenas para viver a vida da melhor forma que sejamos capazes, para desta forma tocar ou chegarmos próximo dos instantes de felicidade. Acho que uma das múltiplas formas de viver, pode ser também rememorar aos que nos parecem especiais o quanto é relevante chegar até cada um de nós, palavras ou actos exclusivos. Mas, se empregarmos muito o mesmo vocábulo ou se sentirmos em demasia a repetição de alguns feitos, podemos considerar que se tornam banais. Desta forma o aprazível de se ouvir ou sentir deixa de ter o impacto que nos provocou no inicio.
A nossa distracção em não parar e pensar, causa o efeito de rotina… e a sociedade em que vivemos, vive constantemente do “ imitar e repetir “ …dai advém a falta de sensibilidade e de originalidade.
Muitas vezes gostamos de alguém não pelo que são, mas pelo que são capazes de fazer por nós…ou vice-versa.



Tila de Oliveira

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O fundo...


Todos nós já visitámos o fundo do poço uma ou várias vezes! Eu já o conheci e detestei! Assegurei-me não voltar lá, e as promessas a mim mesma, ficam gravadas em lápides indestrutíveis na minha mente. Quando me sinto frágil ou quando faço algo que não vai de encontro com os meus princípios, volto a esse alicerce…mas em pensamento. Com estas idas trago comigo o que não quero e a noção exacta do que pretendo.
Se ao longo da nossa vida vamos muitas vezes ao abismo, é porque a busca do nosso bem-estar não é uma meta a atingir. ..
Parte do nosso destino é predestinada por nós e a outra parte...por nós! Não vamos culpabilizar pessoas ou Alguém que esteja acima de nós por algo menos bom que nos acontece. Induzir a culpa noutros é a nossa melhor desculpa. Nós somos os fios condutores da nossa vida… por este e outros motivos, temos que fazer o “muito bom”por nós e nunca esquecer daquilo que não pretendemos para a nossa vida.



Tila de Oliveira

domingo, 20 de julho de 2008

Lemas, escolhas…ou rasgos de algumas certezas…


Desde pequena que incutiram em mim vários princípios, dai suscitar a ideia de poder ser a heroína da minha própria vida!
Talvez seja por esta ou outra razão, que em todas as minhas vitórias a plateia que existe dentro de mim se erga num aplauso uniforme e silencioso. Os clamores que vêm de fora pouco influenciam o percurso que tenho a adoptar, porque o envaidecimento muitas vezes estagna o trajecto proposto por cada um de nós. Mas, os elogios que me possam tecer, são abraços onde me enrosco eternamente…
Desde há muito, tenho a noção que o mundo é para os destemidos… os fracos servem para servir os fortes a conquistar os sonhos por eles pretendidos. Se reparar-mos, os “donos do mundo” chegaram a esse patamar com o auxílio de pessoas que apenas se confinaram a concretizar os desejos dos outros.
O meu sonho não passa por “um outro qualquer” ter sucesso…mas sim, eu tê-lo também!
“Não sei” são duas palavras que posso proferir, mas tenho consciência que com empenho e determinação, vou pronunciar ”eu sei”! È o caminho entre estas duas declarações que dia após dia tento corrigir…
Tudo isto, porque aprendi a conhecer-me! Tudo isto, porque sinto que sou a heroína da minha própria vida!
Em criança aprendi a pôr uma palavra á frente da outra e em consequência disso descobri a leitura assim como a escrita, então nunca mais parei … foi nesses jogos de letras e palavras que inclui metas, sonhos e quereres só para mim! Nessas recreações de conhecimento pude constatar, que podemos ser “semideuses” de nós próprios.
Sim, sou a heroína da minha vida e é com esta certeza que desmorono e excedo muros, é com esta firmeza que em cada queda sei que não posso baixar a cabeça…os tombos atrasam apenas a chegada ao meu objectivo.
Conto sempre muito mais comigo e sei que estarei sempre a meu lado, talvez porque tenha a noção que entramos neste mundo sozinhos e saímos dele… também sozinhos!
Por isso, para seguir em frente muitas vezes é necessário parar, até mesmo dar um passo atrás ou mesmo para o lado. Todos eles são importantes, desde que sejam para pensar se é mesmo aquele caminho que queremos seguir. …
Vasculho muitas vezes a minha alma e tiro partido das coisas boas e menos benéficas que a vida me oferta sem dar por isso, ortografo o meu diário da felicidade diariamente em pensamento e denoto que todos os dias tenho momentos e situações benignas …é este trilho entre o fundo da alma e o cume do meu cérebro que descubro a tranquilidade e o equilíbrio de que tanto preciso.
Para muitos posso não ser nenhuma heroína, mas o que importa a opinião daqueles que não conhecem o nosso trajecto de vida? Sou a protagonista de algumas concretizações existentes no meu percurso de vida…isso basta, para me intitular como tal. O facto de acreditar e confiar em mim, facilita a chegada ao meu sonho.
“Quanto mais perto do amor mais perto do bem”…é também este lema que sigo e trago comigo ao longo destes anos da minha existência, porque o contrário não farão de mim nenhuma heroína…
Lemas, escolhas...e rasgos de algumas certezas é o que faz de nós heroinas da nossa própria vida.

Tila de Oliveira

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Gosto de mim...

Gosto de mim...
Gosto quando me prego sustos, quando calço botas de salto alto para me fazer lembrar que não tenho metro e meio, gosto quando abro prendas presenteadas por mim própria , de rir das minhas cenas de kota.
Gosto quando me chamo à sensatez, de me atropelar propositadamente para ter a noção que vou depressa demais. Gosto quando bebo e a outra "eu" fica sóbria...quando falo pelos cotovelos e me canso de mim mesma, gosto de mim quando digo uma piada e nenhuma de nós se ri.Gosto quando me sento ao meu lado no sofá e quase adormecemos as duas...
Gosto de mim quando abro os olhos e me vejo…Gosto das conversas que tenho comigo, das discussões que se iniciam de costas volvidas, mas que finalizam num abraço nosso… gosto quando me vejo ao espelho e me seduzo com um olhar meio envergonhado! Gosto de me conquistar e dos momentos de paixão entre nós…
Gosto de mim!
Gosto de mim, porque tenho a noção que muitas vezes é preferível pensar nas coisas que alcançá-las... de viver a vida e não limitar-me apenas a existir.Gosto de cruzar com o meu olhar e juntos assimilamos tudo sem ter de falar, aprecio as vontades que temos e convicções que só nós sabemos.Gosto de mim quando tento enganar-me subtilmente para eu não dar conta, agrada-me quando minto a mim mesma e em segundos sou descoberta pela outra que sou eu… gosto quando nos rimos desses e de outros disparates que cometemos.
Gosto de mim, porque descobri que o dia em que comecei a dar as pessoas nunca mais deixaram de não precisar...
Agrada-me quando tenho saudades minhas em determinadas ocasiões…
Gosto de mim quando me escolho para primeiro plano, quando sei que desistir de algo nunca faz sentido... que as penas e alegrias estão entrelaçadas.Connosco caminham todos os mortos que amamos, porque eles apenas deixaram de se ver! Caminham todos os amigos que sabemos quem são, assim como os que se afastaram…Queremos um dia, poder dizer às pessoas que nada foi ou é em vão... que o amor entre nós existe, que vale a pena nos doarmos às amizades e pessoas, que sempre demos o melhor de nós...e que valeu a pena!!! Cremos que em cada milagre sobrevive um espaço para mim e para a outra que sou eu...Não queremos alguém que morra de amor por nós... Só precisamos de alguém que viva por nós.Gosto de mim, porque sabemos que quando as pazes se fazem com amor tudo fica resolvido, que amor e ódio não são conciliáveis…e que a humildade é uma das qualidades mais nobres dum ser humano.
Gosto de mim porque temos a percepção de que uma vida é muito pouco ou pequena para o que queremos fazer ou para o que sonhamos idealizar.

Gosto de mim…por isto e muito mais...por isso, nunca passo sem olhar para mim.


Tila de Oliveira

domingo, 13 de abril de 2008

Agarrei tanto o que me deste...


Na euforia da noite, teu corpo residia ao lado do meu…a lua reluzia longe, rodeada de estrelas a cintilar…
O relógio talvez marcasse as horas certas, mas em mim não existiam. Sentia-me como se nada acontecesse, o meu olhar estava para lá daquele lugar…
Sentia-me distante quando me tocavas e desacompanhada se falasses comigo… mas quando pairava o silêncio, era esse preciso tempo, que queria que permanecesse.
Quis trocar esse momento sem sentido num instante apetecível, e então…procurei teus braços para me abraçares, agarrei o teu rosto e deslizei nele as minhas mãos .
Procurei a tua presença em mim e dos silêncios substitui-os por melodias de suspiros! Brincámos ao amor nessa noite, esperando que o dia não nascesse e as nossas palavras envolveram-nos num abraço único.
Anos depois…passamos um pelo outro ignorando esse dia, longe um do outro esperamos ainda por um adeus.
Na distância sei que nos encontramos ás escondidas do mundo e com sorrisos pouco forçados.
Não somos um para o outro sonhos esquecidos, sofremos calados e de mãos postas reclamamos o orgulho que nos vence…
Acompanho-te em pensamentos ocultos e trago-te comigo em cenários coloridos. Não me pertences, mas tenho-te! Abro caminhos em brisas ardentes e viajo contigo para o incerto.
Peço ao vento que sopre e traga consigo vendavais de amor, onde a minha imaginação possa voar sem ter asas ou navegar sem rotas. Caminho sem destino a teu lado nessa fantasia …
Percorro direcções e rasgo fronteiras do imaginável…disfarço pensamentos e vinculo razões nesse mundo que é meu e teu…
Escondo-me atrás da noite e começo a ouvir ecos de lucidez…é a chegada ao universo real!
Mesmo quando amamos muito uma pessoa, nunca conseguimos fazer com que não sofram…Agarrei tanto o que me deste…
Tila de Oliveira

terça-feira, 8 de abril de 2008

A vida é um puzzle inacabado


Pronunciar-me em relação á morte é um assunto que me inquieta! Vejo-a vestida de negro, com uma força indeterminada! Vem em silencio e sabe quem vem buscar…não olha para trás, não chora nem ri…é gélida, sombria e cruel…
Nascemos! Iniciamos a vida, a construir peça a peça um puzzle, mas nunca o concluímos, fica sempre inacabado.
Quando a morte vem, dizem que por segundos vemos essas peças cair uma a uma diante dos nossos olhos como se fosse um filme, é o instante em que nos preparamos para desocupar este mundo …quem por lá passou e voltou diz que é um momento de paz, não se apercebe do” lá e do cá “!
Acredito que para além das muralhas deste mundo, exista um paraíso… o tal lugar ideal…mas a transição, será sempre um trajecto desconhecido.
Temos poucas certezas, mas a convicção que todos temos uma hora certa para ir…temos! Uns mais cedo que outros…mas vamos.
A vida é um puzzle inacabado…
Quando alguém que gostamos falece, fica sempre uma mágoa, um lugar que nunca vai ser ocupado. Escrituramos no pensamento todas as coisas que não dissemos nem fizemos e é este arrependimento sem retorno, que por uns tempos se converte em revolta…e mais tarde numa aceitação pela metade.
Morrer é triste para quem está ciente da sua viagem sem volta e para quem fica …a inaptidão de não poder mudar o destino.
Para quem já assistiu á morte de alguém, por segundos apercebemo-nos do instante em que os desprendimentos deste mundo para o outro se dá…as nossas vozes calam-se e os sentimentos ficam sintonizados …os olhos cruzam-se com os deles como que autorizássemos essa passagem em paz…e acompanhados por nós.
Sentimos uma calmaria vinda dos olhos deles e talvez um brilhozinho…não sei se de tristeza, calmaria ou concordância …e ouvimos um suspiro que marca o fim da sua jornada.
Os olhos fecham-se, porque já nada vêem…e num outro lado iniciam uma nova vida para os que vimos partir…mas sem nós.
O silêncio é o único som que se ouve…
Reza-se ou falasse com Deus, vêem os “porquês” sem resposta, e mesmo que houvesse nenhuma seria válida ou aceitável…é a revolta e a constatação que somos insignificantes perante o poder de quem criou o mundo.
Mas, acredito que no outro lado deste céu azul esteja o tal mundo perfeito e ideal…se assim não fosse, a vida não teria sentido…
Só ai o puzzle poderá talvez ser concluído…

terça-feira, 11 de março de 2008

Sonha um pouco comigo...


Sonha um pouco comigo e vamos aos tempos em que íamos a muitas festas, mas onde nunca chovia, porque não consentíamos que acontecesse…
Sei que esperas por mim o tempo que for preciso e depois mais algum se necessário…mas eu não quero que aguardes…
A nostalgia e a alegria andam entrelaçadas em cada um de nós…por favor, não passes sem olhar para mim…
Sonha um pouco comigo e deixa-me ficar em segundo plano, onde a primeira escolha sejas tu…e quando passares por mim…admira-me e abraça-me!
Os amigos de infância recordam-me de onde eu vim, tu és um deles e por mais que insistas em esquecer-me, eu não deixo…porque fazes parte da minha história de vida. Retirar-te das minhas lembranças era mudar a minha biografia e algumas coisas que vivi só fez sentido ser contigo. Então, porque não podemos sonhar os dois?!
Quando o meu olhar se cruza com o teu, sinto o choque perfeito o encaixe sem folgas…por mais que planeies fugir, as tuas pernas optam por não te ouvirem…preferem ficar quietas e desautorizarem o teu pensamento.
Sonha um pouco comigo e vamos ao tempo em que falávamos horas a fio…ou se quiseres, aos momentos em que pouco conversávamos…porque as palavras estavam escondidas nos actos.
Parece que tens saudades do que nunca existiu! Ou então é o que queres acreditar, mas se assim for, mentes a ti próprio…não queiras sonhar sozinho e ir aos tempos em que fazíamos parte um do outro…
Mesmo quando discutíamos, nunca íamos embora zangados…essa era uma das nossas condições…por tudo isto e muito mais, sonha um pouco comigo e quando passares por mim…não passes sem me olhar.
Tila de Oliveira

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O ódio...


“Quando se odeia, as únicas pessoas que sofrem são elas próprias, porque a quem se odeia não sabe e as outras não se importam”!

O ódio e o amor conseguem ter a mesma força, a diferença é que são sentimentos com direcções e comportamentos completamente antagónicos.
Eu penso que quem odeia, não vive com a mesma serenidade como aqueles que amam! Parte do dia deles deve ser dedicado a pensar no infortúnio dos outros…como é possível desta forma, alguém ter momentos de felicidade ou mesmo de tranquilidade?!
O ódio trás inaptidão de viver em sociedade e desmerecimento por parte das pessoas que as circundam.
Afastar-nos é o primeiro passo…o segundo é ignorar-mos esses seres por completo!
Se não o fizermos, somos atacados pelo cansaço psicológico e dai advêm a fraqueza, o medo e tantas outras sensações provenientes dessa fadiga…
Dizem que o medo é um vício, será que o ódio também é? Penso que não…penso que é mesmo malignidade de seres errantes e sem perspectivas de progredir.
Vivem sempre ansiosos e um espírito inquieto não faz uma pessoa feliz!
Eu não sei odiar e nem quero aprender!
Se alguém me odeia? Talvez…mas então repito o parágrafo acima referido:

“Quando se odeia, as únicas pessoas que sofrem são elas próprias, porque a quem se odeia não sabe e as outras não se importam”!


Tila de Oliveira

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

"Fantasmas"...


Todos nós temos os “nossos fantasmas”!
“Vivem” a atemorizar pessoas e atacam nos instantes mais débeis da nossa vida. Não são mais fortes que nós, mas em certas ocasiões parecem ser e quando se apercebem que cremos nisso, denotam grande agilidade e poder psicológico para ameaçar o nosso equilíbrio mental.
“Vivem” para nos descontrolar e fazem-se ouvir de várias formas… subtilmente ou com atitudes enlouquecidas. Tantas vezes repetem falsidades que quase se convertem em verdades.
Embora o subconsciente nos avise incessantemente das abordagens deles, o barulho do silêncio desses “fantasmas”, afaga esse grito sem ser ouvido.
Cambaleamos no meio deles á procura de portas abertas…a resignação é a forma mais fácil! Dão a sensação que vivem em corredores estreitos e escuros, enclausurando-nos neles, calando as nossas preces onde as portas de saída parecem ter desaparecido.
Mas no meio desse labirinto poderá sempre erguer-se uma força superior á deles…a nossa vontade!
Evocamos por ela e preenchemos o nosso corpo com toda a sua energia … as portas abrem-se deixando para trás passagens enormes o que outrora era inimaginável! A energia do nosso “querer” ilumina todo o espaço e todos os fantasmas desmoronam-se com a dimensão da nossa audácia.
A vontade é alimentada pela coragem, bravura …que existe em cada um de nós!
Aos fantasmas, podemos simplesmente intitulá-los de “emaranhado de emoções!
È isso que eles são apenas…



Tila de Oliveira

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Paixão...


Paixão…
Sinto-a presa a cada músculo do meu corpo, cada gesto que adopto revela-se de variadíssimas formas e muitas vezes em desejos descomunais. Algumas das minhas paixões são escolhas premeditadas, enquanto que outras, surgem acompanhadas de predilecções inerentes á paixão.
Cobre-se num modelo sensual onde a palavra “não” jamais existe! Assenta numa provocação descomunal e num pensamento coerente adiado…mas gosto dela! Gosto do poder da sua sedução, dos argumentos calados…que apenas se “ouvem” nos apelos exaltados do nosso corpo. Apanho boleia numa das suas carruagens de pedidos sem recusa, para a louca viagem dum mundo exaltado pelas minhas fantasias.
Abandono em terra o que entrava este enlace e juntas partimos na busca de momentos efémeros mas apelativos.
A paixão faz com que nos esqueçamos de olhar para trás! Bloqueia o pensamento e desmantela o real… edifica miragens que aos nossos olhos não é imaginativa.
Ela é uma “mulher” com “quereres” firmes e com plenas certezas…
Conhece o sabor do nosso beijo, o trajecto do nosso corpo…o toque que nos extasia. Não fala… apenas incumbe provocações aos sentidos onde são insuportáveis de deter. Utiliza a fragrância que gostamos, soletra as palavras mais aprazíveis ao ouvido…e oferece-nos uma vasta lista com dúbios estados, onde o lado de lá é o limite…assim como o porto de chegada da carruagem desta mulher sem rosto, mas inundada de emoções.
Desde a partida á chegada, esta viagem envolve instantes soberbos, onde nos desvinculamos deste planeta indo á conquista do universo perfeito.
Gosto da paixão…porque arrecada tudo aquilo que nos faz feliz.
Reside cá dentro e vive o mesmo tempo que nós! Faz-nos sentir vivos e ensina-nos a inventar um mundo de fantasias de vez em quando…assim como, vontades resistentes e certezas absolutas sem serem momentâneas.
Eu deixo e quero enlaçar-me por ela…porque me faz bem.



Tila de Oliveira

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Ninguém os quer ver...




Apenas um saco os persegue nesta procura sem direcção. Qualquer local serve para assentar o corpo anestesiado pelo frio e chuva. O vento cá fora assopra sem dó e piedade, cada Homem busca o lugar que não deseja para se albergar.
A rua está deserta…
As olheiras abrigam-se atrás duma pele ressequida e escura, os olhos estão vidrados desde o dia em que a rua os hospedou. Nas mãos, nas mãos carregam o “nada”, um “nada” pesado e gigantesco…a coluna curvasse postando o rosto volvido para um chão que é continuamente o mesmo.
Hoje fica aqui, neste recanto pintado com tintas incertas e desenhos indecifráveis…neles vê tudo e nada.
O dia acaba! A noite faz-lhe companhia sem a presença da lua, das estrelas…e dum céu cristalino. Ele próprio é a sua companhia e quando não a quer, substitui-a pela sombra que o escolta, que parece em melhor estado que ele.
As horas sucedem-se, mas que interessa as horas se são todas iguais? Outro moribundo chega…mas ligeiramente desaparece no silêncio da noite, quando vê que este canto está habitado.
Espera que o dia nasça, como se aguardasse por algo …mas o dia chega, mesmo que não seja apetecido!
No intervalo entre a noite e o dia, outros “sem abrigos” friccionam as mãos gélidas uma contra a outra, tapam os rostos com gorros feitos de orifícios sem concertos. Nos pés…os pés contêm uma pele espessa com fissuras oferecidas pelo chão que calcam. Essa compacta tez é os sapatos que os conduzem onde os pés anseiam andar…
Na mente nada se move, porque o futuro não existe…
Uma luz acendesse numa casa qualquer, ele olha com nostalgia…
Lá dentro tudo se ilumina de cor, de aconchego…cá fora é o oposto daquela visão verídica e incomodativa.
Desvia o olhar…porque lhe faz mal…
Enfrenta a realidade com os olhos colocados no seu horizonte que é mesmo ali.
Deita-se… na sua “enxerga”! A sua cama de cartão é mais minúscula que a extensão do seu corpo, a almofada é a sua mão gelada que enregela o seu pensamento…
O dia vem com um sol enfraquecido…
Os caixotes do lixo estão cheios não de imundície… mas de algum mantimento para enganar um corpo debilitado e onde o nada se torna algum …
Olhos cegos da realidade observam estas pessoas e gestos, abanam a cabeça num sinal de incómodo…é a veracidade indiscutível, com que muitas criaturas vivem.
A revolta marca o início do nosso dia…
Não olhamos para trás, não queremos voltar a visionar essa peça que durou uns minutos, mas mais á frente outro cenário idêntico se depara… é inaceitável deixar falecer estas “representações” do nosso pensamento.
Este é o filme da vida, baseado em acontecimentos verídicos…onde a pobreza está patente no quotidiano! Os olhares não são pintados para parecerem descontentes, porque já o são…o sorriso não é ensaiado vezes sem conta, até que fique bem numa tela de cinema…porque simplesmente o sorriso foi obstruído pelas vicissitudes da vida. Os gestos não são treinados, porque a vida os imobilizou.
Neste palco são desnecessários produtores ou realizadores para incrementarem a arte de interpretar…estes actores “recitam” bem, mas não foi esta ocupação que elegeram para a sua vida.
Quando abrem os olhos adormecem numa tristeza infindável e quando os fecham…não dormem nem sonham, porque têm um sono tão perturbado que não lhes permite fantasiar.
Este homem, direcciona-se a alguém e estende a mão sem falar, talvez já nem saiba mendigar ou talvez nem seja preciso… os factos falam por si. Esquivam-se dele…por medo, por indignação ou por desdém! Outros estendem o braço, agarrando uma moeda em apenas dois dedos sem tocar nele…a pobreza não se pega, se alguém não souber!!!
As atitudes menos dignas das pessoas já não importam a estes seres que vivem em função da bondade dos outros! A tristeza é tão vasta que qualquer acto descabido já não os transtorna.
O que os perturba mais é a insensibilidade e o desdém…talvez.
O que é incompreensível e inaceitável é virar a cara e fingir que nada vimos…
O que é intolerável é desprezar pessoas que nada têm. È inadmissível terem vergonha destas pessoas!
Será que nunca nos questionámos: “o porquê de viverem neste “patamar” da vida?!”
A vida dá e tira-nos muitas coisas…
Em algumas situações erramos e fazemos coisas menos correctas…mas noutras não. Alguns dos “sem abrigos” que nos circunda…são “vitimas” de abandono, violação, maus tratos… outros não, claro! Então não vamos generalizar, vamos parar de olhar para eles duma forma menos correcta, como se fossemos superiores.
Eles são dignos de sorrisos, de apoio…
Vamos se possível, temporizar a pobreza o mais que podermos…
Os nossos olhares repletos de humilhação “mata-os” interiormente! Já basta conviverem nas condições em que assistem… não temos o direito de os reprimir mais.
A sociedade em que nos deparamos tem medo da pobreza, mas pobre não é só aquele que não tem condições…”infortunado” também é o indivíduo isento de sentimentos.
Parte de nós ignora-os, fingimos que não os presenciamos…ficamos inquietados com tamanha miséria, mas a verdade é que eles andam por ai.

Com toda a certeza, os “sem abrigos” têm saudades deles próprios…



Tila de Oliveira

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Bancos de jardim...


Em cada jardim quantos velhinhos descobrimos nos bancos desses jardins? Talvez nenhum...porque não os vemos...ou se os vemos, passamos e olhamos para eles duma forma como se o assento estivesse sozinho... Os bancos são a companhia fria e calada de muitos velhos que por lá passam...mas provavelmente eles sabem mais que nós...talvez saibam os grandes homens e mulheres que foram um dia e que ainda são, apenas a idade os atingiu, assim como a nós um dia irá tocar. Esses bancos sem voz e sentimentos, acolhe-os tantos dias e noites...tantas vezes são a cama que lhes falta diariamente, a mesa sem ser posta...com um pão dum outro dia qualquer. Esses bancos cegos, mudos e surdos possivelmente têm sentimentos...senão porque ficariam gastos, sem cor e a “gemerem” quando deixam de ser cama e mesa de algum velhinho que abrigaram... “Velho sentado no banco dum jardim”...é uma musica da Mafalda Veiga, que talvez toda a gente deveria ouvir... Um dia quando tinha vinte e tal anos uma pessoa de idade avançada, pegou-me nas mãos e disse: as minhas mãos nunca mais irão ser como as tuas, mas as tuas irão um dia ser como as minhas! Hoje... digo isso a muita gente...mesmo nos meus 42 anos! “A velhice é a preparação para a morte”, alguém o disse...então porque não dar mais tempo e atenção a essas pessoas que passeiam lentamente para um caminho sem retorno? Eles querem travar esse tal atalho para a morte… Ser velho e assim tão desprezível? Quantas histórias terão para contar e quantas temos nós? Somos vazios enquanto que eles não, estão cheios de existências,...o que têm de vazio é apenas o olhar, porque...passamos por eles diariamente e nem lhes ligamos... Muita gente tem receio da velhice ou de olhar para os tais velhos que andam por ai a deambular no mundo, talvez porque a idade os atormente, talvez porque associem velhice a isolamento, será? Velhice não significa isso, desde que todos os dias haja um sorriso, um carinho, um abraço, uma palavra para eles...ate um pessoa de 20 anos tem necessidade de afecto, amor e ternura, senão também sofre essa coisa de...solidão! No Natal apela-se ao bom senso de toda a população, para apoiar tanta instituição...mas penso que é no Natal que muita gente sente mais dor, penso que ai sentem mais o tal desamparo, porque? Porque o ano tem 364 ou 365 dias e só nas épocas Natalícias evocam para se fazer tanta coisa e nos outros dias não...claro que os sentimentos indignam-se, assim como de tantas crianças abandonadas, doentes, sem abrigo... tanta gente! Revoltam-se e criam um conflito interior...porque todos os dias...poderiam sorrir, como nós sorrimos... A velhice trás rugas, cansaço, pouca visão, doenças...! Ou seja, as pessoas envelhecem...mas a sensibilidade não! Devemos pensar nisto... Cada vez que passares por um velhinho num banco dum jardim...sorri-lhe, e se puderes investe cinco minutos a falar e ouvi-lo...vais ver que no rosto ira aparecer muitas mais rugas...mas de sorrir!!! Se anexares o teu sorriso ao dele, ficara uma tela linda...e o teu dia, assim como o do velhinho, ira clarear e correr muito melhor...acredita. Pensa que um dia, daqui a muitos anos, o teu desejo poderá ser...Um sorriso igual ao k deste hoje...porque poderás estar também sentada ou sentado num banco de jardim... A velhice e apenas mais uma etapa, onde eles chegaram...enquanto que nós...não sabemos. A todos os velhinhos um beijo ...Tila de oliveira

Apetece-me não me apetecer...


Hoje é daqueles dias que sinto carência do nada…
Que concebo um contentamento contagiante sem sorriso
Sinto um desejo que não me apetece consolidar!
Apetece-me viver o dia de ontem, ter hoje o que vou ter amanhã…
Apetece-me correr caminhando
Falar sem abrir a boca…
Pretendo mandar-te um postal sem ele sair daqui
Escrevê-lo com um lápis incolor…
Estou energeticamente feliz imóvel
A saborear o meu cigarro apagado…
Observar o mundo de olhos bem cerrados…
É a antítese em cima dela própria!!!
Eu sei…mas não quero saber…
Apetece-me…unicamente.

Os anos não passam por ti...


Pressinto o teu cheiro em muita coisa onde toco, ainda sinto o passar da tua mão em cima da minha!!!
Rapidamente tento atraiçoar o pensamento, fujo ultrapassando as lembranças e curvo em lugares errados…para iludir o que está preso a mim…puro engano, eu sei!
Quantas vezes quis encontrar-te? Tantas quantas as que quis esquecer-te…
O pensamento vai onde não queremos que vá, em minutos emerge onde em dias não conseguimos nos aproximar em presença.
Depois vem a saudade, essa palavra espessa de tanto sentimento, mas que não conseguimos decifrá-la…nem com palavras, nem com gestos…só e apenas com um olhar vazio, embaciado, longínquo…é isto a saudade!
Procuro-te em sítios errados, em horas que não têm nada a ver com as tuas, em cidades onde nunca foste…mas, por sarcasmo do destino, encontro-te sempre! Descubro-te em objectos que toco, lugares paradisíacos, em palavras que nunca te direi, mas que estão feitas em frases dentro de mim há anos…
Soletro baixinho o teu nome e toda a natureza se inclina para mim, como escutassem ou compreendessem…
Risco teu nome da minha cabeça, mas é no coração que não consigo apagar, abolir ou exterminá-lo para sempre…
Atrás do teu nome estás tu, tal e qual como eras quando te conheci e por inacreditável que pareça, até com a mesma idade…18 anos, é a idade que tens ainda para mim. Estás sem rugas, sem cabelos brancos e com aquele sorriso único que te era peculiar…
Estou contigo as vezes que quero…mesmo que não estejas junto a mim…
A culpa é minha, de te transportar cá dentro ao longo de todos estes anos…com a vantagem de não envelheceres neste espaço confidencial onde tudo se conserva e onde só eu posso ir…
Aqui os anos não passam por ti… apenas por mim…

Tila de Oliveira

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Uma mensagem á vida...


Não é a vida que passa por mim, a uma velocidade alucinante…sou eu por ela!
Para mim viver, é muito mais que sentir o coração bater!
Viver, é desvendar caminhos onde poucos pretendem ir…
È usufruir de tudo aquilo que a vida tem…
È errar, corrigir, ultrapassar e ganhar…
È sorrir e olhar o mundo olhos nos olhos…
Viver é ser de mim …e ás vezes tua!
Viver a vida é “enganá-la” também…
Desculpá-la sem vontade de o fazer…
È fazer dum nó da garganta um laço…
Segredar-lhe algo, o que deveria ser dito aos berros!
Viver, é “vestir e despir capas” adequada ás vicissitudes da vida…
Mesmo assim…adoro viver!
Mas odeio a capacidade e o poder que a vida tem… de poder roubar um dia a minha existência!
Não quero pensar nisso!!!
Porque a vida dá-me presentes…estar aqui!
Deixa-me ficar contigo muito tempo…Fica comigo…
Clareia o meu olhar, pinta o meu sorriso, ergue-me quando estou quase a desistir, empurra-me quando páro…abranda-me quando corro sem destino.
Conto contigo, para me ofereceres tudo isto…durante muito e muito tempo!

Tila de Oliveira




sábado, 19 de janeiro de 2008

Estou de parabéns...42 anos!


Estou de parabéns...42 anos

Escrever faz parte integrante do meu quotidiano e hoje sem duvida alguma, não poderia deixar passar ao lado este dia.
Faço hoje 42 anos…sim 42 anos! Sou “kota”, estou na tal “meia-idade” como se costuma dizer, tenho algumas rugas…e dai?! Sempre podemos concordar em discordar com estas e outras observações, não é?
Tenho 42 anos e algumas vivências para enumerar, outras para arquivar na minha memória! Estou de braços abertos para receber outros tantos, poderão não estar tão hirtos como quando tinha 20 anos, mas estes braços abarcam a mesma a vontade de enlaçar o mundo na minha existência.
À medida que a idade avança, perdemos algumas coisas e adquirimos outras…o quê? Perdemos a juventude, temos menos desculpas para errar, menos oportunidades…
Mas ganhamos experiência …é o que todos dizem, aqueles com idade mais avançada não é? E nesta idade posso fazer tudo o que me apetece, sem dar satisfações seja a quem for…porque tudo me fica bem e mal ao mesmo tempoJ
Com a idade, conquistamos rugas…aqueles traços enrugados que atormenta muita gente. Ganhamos flacidez e por mais cremes anti-rugas que possamos pôr…nada.
Mas, nos meus 42 anos não planeio muito meditar em rugas, porque estão manifestadas no meu corpo e nada há a fazer. Não pretendo matutar na minha juventude que o tempo levou, porque não volta. Não quero pensar muito nos enganos que cometi e que cometo …porque faz parte do ser humano, tenham a idade que tiverem.
Tenho 42 anos e olho para eles duma forma afectuosa…porque foram eles que me escoltaram até hoje…para quê renegá-los?! Pois foram quinze mil trezentos e trinta dias de vida…é impossível desprezá-los, ou ignorá-los...
Faço muitos balanços ao longo dos 365 dias, mas este é peculiar…é o meu dia. Não olho para o passado com nostalgia, mas sim com orgulho. Não quero “sondar” o futuro com inquietação, mas sim com impassibilidade! O presente? O presente é o agora que apressadamente se inverte para pretérito…
Tantas vezes revejo fotografias, como se quisesse voltar atrás…e consigo, porque elas contêm a magia de parar o mundo numa determinada época! Mas depois, temos de “devolver-nos” á vida e permanecer na era em que nos deparamos.
Por isso, quero sobrecarregar o olhar com o melhor que coexiste no meu íntimo e o menos bom que envolvo… pouco a pouco anseio esmorece-lo.
Muitas vezes cogito em silêncio, se a vida não pode ser como nós a queremos ver? Talvez sim…talvez não…
Na minha existência sempre optei por direcções que tivessem sentido, hoje mais que nunca procuro com veemência e lucidez caminhos sensatos para mim. Cada acção tem uma consequência, o que pretendo é que o somatório delas…seja de uma vantagem imensurável
Os meus erros foram ensinamentos de vida, as vitórias provieram de lutas incessantes!
Hoje faço 42 anos e uma das minhas certezas é que:
EU não fui o amor que escolhi para ficar em segundo lugar!!!
Tila de Oliveira (15-01-08)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Um olhar sobre mim...


Um olhar sobre mim...
Abro a janela do meu ser e debruçando-me sobre ele observo um corpo de meia- idade que tenta libertar-se dele próprio.
Procuro ofegantemente a juventude que se afasta visivelmente a paços largos, escapando-se por entre os dedos como se tratasse da mais fina areia....
Apoio os braços no parapeito da minha mente e inclino-me....
Tento passar a pente fino todos os sentimentos que coabitam comigo á anos e que fazem parte integrante do meu ser.
Faço uma retrospectiva e compreendo a importância de reviver momentos....
Recordo e obtenho mais informação sobre a minha mudança. Tento abolir o que não interessa mas sem sucesso, pois mesmo tudo aquilo que é mau se torna importante, eles marcam um tempo, uma época... um momento que acabou por ficar, tornando-se impossível desmoronar até os mais tórridos desgostos ou lamentos...
Varro e limpo resíduos que foram ficando acumulados e entranhados em mim como se de objectos pessoais se tratassem... não, não os consigo destruir! Simplesmente absorvi!
Sem opção, abro uma torneira para agonizar toda a energia negativa que me invade desconsoladamente e energicamente esfrego o meu chão assentado num corpo de meia- idade! Quanto mais lavo mais clarificadas ficam as nódoas e feridas protagonizadas pela puta da vida!
È então aqui onde concluo que tive tendência ao longo da minha vida para repetir os mesmos comportamentos muitas vezes....
Consigo visualizar enumeras rotinas que podiam ser evitadas!
Somos ás vezes umas máquinas onde pouco a pouco perdemos as emoções, os sentimentos... e sofremos! Sofremos porque a vida é sempre igual, ou seja vivemos a querer mudar e ao mesmo tempo lutamos para que tudo continue como está!!!
.... Desço o corrimão do meu corpo e caminho para o degrau numero 38....
Cada degrau simboliza um ano que é constituído por histórias reais, derrotas ou vitórias e sensações! Percorro todas as divisões do meu corpo enlatado de vivências visivelmente abalada pela emoção...
Abro uma janela, outra... e outra! Aproxima-se um vento subtil que me toca e beija, enlaça-me num abraço que se torna familiar.... dei-lhe um nome: ESPERANÇA!
Esperança essa ladeada de força e encorajamento.
Nasce nova áurea em mim e sem temer ouso descer ao degrau numero 20... 20 ANOS!
Sento-me e mastigo por uns segundos esses anos inconsequentes, loucos e gloriosos!
Sinto na boca o sabor a saudade e revitalizo-o pela minha capacidade de visualizar uma data, uma época! Sinto que fiz uma viagem, mas que é incompleta e irreal!
Retorno ao degrau numero 38... este é o meu tempo real!!!
Desenho nesse lugar o meu ano e rasuro os meus desejos, cravo um beijo quente num degrau frio e rugoso mas que inevitavelmente me pertence!
Levanto-me... fecho as janelas, abro a porta e saio sem olhar para trás, acompanhada de um sorriso no rosto! Porquê? Porque aquele vento subtil que me beijou na face, sussurrou-me ao ouvido que a idade só existe no tempo...
Deito fora a chave, acreditando que daqui a 12 meses nos meus 39 anos essa chave continue á minha espera, para sobre mim lançar um novo olhar... neste corpo de meia- idade... mas que é meu!

Tila de Oliveira

15-01-2004

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Há dias assim...


Há dias assim…

Há dias em que o desejo e a lembrança se acasalam para porem a conversa em dia! Nessas alturas sinto nas veias um corrimento ardente que dilata todos os poros…
Sinto o teu cheiro em toda a casa, mas é na minha cama que a tua ausência se faz sentir… e é em mim que tudo estremece com querença de te ter aqui…
Ficas comigo em pensamento e a lembrança vai-te buscar carregada de fantasias …onde um dia as concretizamos…
Sinto a tua falta, tantas vezes…
És um livro inacabado, mas perfeito até ao momento onde ficámos…tu foste aquele onde tudo subsistiu enquanto estávamos os dois…
Há dias assim…porque a lembrança te vai buscar e o desejo vem também…



Tila de Oliveira
8-9-07

domingo, 6 de janeiro de 2008

Cubiculo de emoções...


Cubículo de emoções…
Pássaros trancados com sonhos congelados, esperando saltar muros sem fim…
Hoje os teus sonhos expiraram, principiando os teus pesadelos, medos, arrependimentos atrasados…vinculados de ódio!
A partir de hoje, a tua vida tem outro sentido… que é nenhum! Ela vai ter outro propósito, propósito esse, que é estar enclausurado numa cela imunda, com parceiros desconhecidos, mas que daqui a algum tempo…serão os teus unicos amigos vinte e quatro horas dia.
Jogaste forte e perdeste tudo, mas... ganhaste uma coisa no meio disso tudo! Adquiriste um recinto fechado, com pessoas “esquisitas”… deves estar a pensar que esse lugar não é para ti, que tiveste azar! Não! Não, esse local é para ti, foste tu que o procuras-te e não tiveste azar…acredita! Mais cedo ou mais tarde irias parar ai…ao teu lugar.
Ultrapassaste os limites legais, pisaste o risco e agora os teus dias vão ser longos, tristes, atrofiados e sempre idênticos…
Arrependido?! Claro, mas agora não adianta pensar nisso, estás a pagar o preço justo!
A partir de hoje vais passar os dias a cogitar: "o que estaria a fazer se estivesse lá fora"! Mas não imagines…eu lembro-te! Estarias a “matar”vagarosamente pessoas, com um produto que te “matou” a ti também…
Tu és o testemunho que a droga não presta!
Agora vais ver um mundo distinto! Vais ver o sol aos quadradinhos como se fosse uma banda desenhada e com legendas escritas por ti.
Nunca olhaste o Sol? Vais ter tempo para o contemplares, acredita! Simpatizas com a lua? Gostas? Óptimo, vais ter vagar para gostares ainda mais, porque ela vai ser a tua confidente nas noites que o sono teima em não chegar.
As grades vão ser o teu melhor abraço, mas frio…e imóvel!
Pássaro trancado, sem asas para voar…é o que és neste momento!
Tinhas um mundo ilimitado e infinito…agora é limitado e sem pressas. Vais acordar e desejar dormir novamente, sonhando com o dia da tua liberdade! Mas, não penses assim…porque vais chorar muito e sofrer e ainda mais! Ai dentro sofres tu e quem está cá fora…aqueles que te amam, lembraste? Mas que nunca deste ouvidos… que te esquecias frequentemente no teu diaa dia.
A cadeia existe para seres humanos inconscientes…tal como tu. Estás no lugar certo!
A droga deu-te a conhecer muitas coisas, entre elas o prazer de estares numa cela…nunca irás esquecer esse presente! A droga também te ofertou a degradação dos estados que as pessoas chegam, o “lixo” que as alimenta, o sofrimento que causa, a dor que provoca! Nunca te vais esquecer do primeiro charro que fumaste e nunca te vais querer lembrar do dia em que passaste para as drogas mais pesadas! Pensa nisso! A tua “onda” é um fracasso…um insucesso alicerçado em ilusões. O teu maior e melhor "cheiro" a partir de hoje, é uma "linha" que tu próprio renegas...
Agora só tens uma coisa a fazer! Fazer da tua cela a tua casa, dos teus companheiros a tua família… e da tua única janela vais visualizar um mundo carregado de euforia, alegria…e tu com raiva de nós…
És um homem enjaulado, um predador fraquejado com olhos vidrados e fixos num ponto pouco definido…
Pensamento invadido de recordações, outrora esquecidas e nunca pensadas…
Passado eminente e presente conturbado com pessoas que não te dizem absolutamente nada de nada! Na tua cabeça existe apenas um vazio que teima em não ser preenchido! Não tens vontade e nem te apetece ocupar essa tua cabeça oca…porque nem isso consegues. Apetece-te levantar, mas as forças atraiçoam-te, olhar cabisbaixo penetrando-se e fixando-se num ponto que não tem sentido nem utilidade…tal como a tua vida neste momento…
Tentas ocultar o teu estado de espírito, mas olhas em redor e nada do que vês te consegue apagar a angustia que mora dentro de ti. Há, tens medo de olhares ao espelho? Claro, porque no teu rosto está estampado a amargura que te vai na alma.
Languidamente procuras enganar o teu cérebro e pensas em coisas boas…mas trazem-te ainda mais mágoa…não é?
Sentes raiva de ti, nojo do que te rodeia, repugnância desse lugar…e tens saudades do que está cá fora.
Tentas idealizar sonhos assentados na ressaca do teu choro calado…
Cubículo de emoções é o nome que posso dar a esse lugar vazio! A ti…a ti vou chamar-te pássaro ferido…ferido e alvejado num peito ensanguentado de arrependimentos e sem colete á prova de dor…
No teu cubículo de emoções vais caminhar passos repisados, pois não vais ter espaço para mais…vais pôr na parede fotografias e frases de pessoas que gostas, como que tivesses medo que elas se esquecessem de ti! Quem te ama não te esquece…podes ter a certeza! Elas vão estar sempre contigo, mesmo sabendo que erraste e acima de tudo, mesmo sabendo que cá fora… te esqueceste delas!
A tua maior dor, vai ser a falta de carinho, a ausência de um abraço e de um beijo terno e doce…
Vais pensar em tanta coisa que não pensavas!!! Vais rezar se calhar…ter aquelas conversas com Deus!!! Sim conversas, porque tu nem rezar sabes e até ao momento deves considerar que Deus foi injusto contigo!
No teu cubículo de emoções imagina só isto: tens ai dentro uma pessoa muito especial…tu! Erraste e estás a pagar por isso, não deixas de ser boa pessoa por estares nessa “aldeia”…acredita que cá fora permanecem pessoas muito inferiores a algumas que coabitam contigo.
Embora ferido, sem asas, debilitado e sem forças…pássaro ferido num cubículo de emoções…levanta-te e voa!!! Não tenhas vergonha do teu presente que vai passar a passado…pensa no teu futuro. Tudo isto é uma lição para ti… essa tua “professora” de vida é bastante dura…tira partido dela e não repitas os mesmos erros… nunca mais.
Um beijo da tua amiga

(a um amigo ex recluso)
Tila de oliveira 2001

As ruas da minha vila...


É nas ruas da minha vila que sinto a calçada sorrir para mim, quando o passar dos meus passos deslizam sobre elas.
Embora corroída e envelhecida pelo decorrer dos tempos, é só nas minhas ruas com calçada de paralelos lisos que o tempo danificara… que me reconhecem.
Essas ruelas de cor cinzentas ainda encobrem os becos onde brinquei, mas que outrora tinham outra cor.
Quando palmilho aquelas vielas…“sinto” que todo aquele cenário se inclina para mim, como se estivessem a darem as boas vindas. As casas desabitadas pelas gentes que já morreram têm vida quando olho para elas, e por momentos “vejo” essas mesmas figuras no lado de lá das janelas. O meu pensamento vai até esse tempo que o próprio tempo levou…mas que não aboliu da minha memória.
Nessas ruas já um tanto desertas e com calçada envelhecida, sei de cor os locais onde me refugiava para pensar no meu futuro…nas promessas que fiz a mim mesma.
Sei o lugar, onde imaginava á minha maneira um mundo fora dali…ainda sei, todos os pensamentos que tive em cada recanto da minha rua! As certezas e incertezas, as duvidas, os sonhos…tudo se mantém e mesmo as gerações subsequentes nunca irão conseguir “roubar” os meus sítios, porque eles também “pertencem” a uma menina que ali nasceu e brincou naquelas calçadas onde outras brincam agora.
Nessas lajes estão gravadas palavras invisíveis que escrevi com o meu pensamento, parece que ainda vejo as “minhas ânsias” da altura, épocas onde queria conhecer muito mais realidades para além daquilo que via…o fundo da rua era o fundo daquele mundo… mas, com persistência alojava o olhar dentro da minha imaginação e juntos sobrevoavam todas as ruas da minha vila…na busca de outras avenidas…
Os postes de electricidades eram “a minha luz” mais longínqua…e hoje estão aqui tão perto de mim…
Olhava para a claridade deles e parecia tão forte e difícil de tocar…hoje vejo que é fraca e fácil de alcançar…
Nessa luz punha o meu futuro sem medo ou receio, porque nunca tinha visto outra para além daquela…a não ser a luminosidade do sol…mas essa “luz” era uma ilusão.
Em alguns dos meus espaços, outras existências foram construídas… mas nunca aniquilaram da minha lembrança esses sítios…e o que contemplo nunca é o que está agora, mas sim, o que se encontrava primeiramente.
Está tudo gravado no lado de lá da minha mente e quando olho para estes “esconderijos” todos são autênticos e reais…
Nas ruas da minha vila ainda oiço o bater da corda na terra batida onde saltava á tarde com os meus amigos…ainda oiço o pedalar da minha bicicleta e o rugido da corrente quando saltava do carreto…recordo o tilintar dos berlindes…a euforia de quando brincava ás escondidas ou á cabra-cega…
O riacho, o riacho que corria pertinho da minha casa já não existe…mas ainda o oiço… consigo visualizá-lo porque a minha memória não deixou falecer as lembranças de tudo aquilo que vivi nas ruas da minha vila…
As ruas da minha vila não são como as da cidade…por isso a torna tão especial, singular…e tão minha!


Tila de Oliveira