terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Um corpo nu...


Um corpo nu…
Diante dum espelho tiro uma, outra e mais outra peça de roupa! Vou ficando desnudada, sem etiquetas a revelar o valor das calças ou da camisola…
Opto pelo vestuário mais singular e genuíno que arrecada o corpo…a minha pele. Diante deste corpo nu contemplo cada palmo de pele, como se fosse desconhecido. Eu e ele apresentamo-nos com toques suaves e estremecemos em cada encontro de pensamentos impuros. Gosto destes sobressaltos a mim mesma…
Eu posso olhar o mundo e não simpatizar com coisas que contemplo, mas posso olhar o espelho e vibrar com a imagem que ele reflecte. Nestes encontros comigo mesma, posso rasgar tempos e transpor fronteiras desmedidas á velocidade do pensamento. Posso pegar em mim, abraçar um sonho qualquer e juntos fugirmos para onde a realidade nos nega. Comigo não escuto despropósitos, renuncio á hipocrisia e tenho destreza que baste para não dar importância ás duplicidades da sociedade.
Diante deste corpo nu, não me sinto só…mas se o sentisse, é porque “em vez de ter construído pontes, tinha erguido muros” ao meu redor.
O espelho retrata o corpo despido, o meu olhar manifesta fraqueza sobre ele...e segue as linhas do âmago sem tropeços. Vagueiam de órgão em órgão e trazem ao de cima a tal autenticidade que existe em cada um de nós…é neste preciso instante que todas as “peles” ficam prostradas a nossos pés. Esta nudez só traz incómodo quem tem receio de se encontrar consigo própria! Podemos até ficar desiludidos com a essência dele, mas pior é tentar despistar a decepção…
Como alguém disse e bem:” Não faças da tua vida um rascunho, podes não ter tempo de o passar a limpo”!
Diante do corpo despido, é fundamental termos coragem para retirar todos os rótulos que pendurámos em nós. Melhor que o espelho a reflectir o corpo sem vestias...é a audácia para despir a alma.

Tila de Oliveira