terça-feira, 14 de julho de 2009

Sem titulo...

Hoje fui a um passado longínquo…estavas lá tu.
Sentei-me e revi fotografias quase sem cor. Recordei contigo dias que ultrapassavam noites sem darmos por isso…
Fui á gaveta das minhas lembranças e li todas as tuas cartas…
Fiquei triste por saber que foste para o tal lugar sem nome…hoje conseguiste banir de mim sorrisos. Culpei-me por não te procurar, por não ter ido visitar-te nesse lugar frio com muros que dividem um mundo de outro. Atrás dessas grades, provavelmente sentiste o desapego de muita gente, a ausência de afectos…e que tanto gostavas. Os anos que estiveste nesse cubículo, não te levaram á recuperação ou ao afastamento dessas substâncias estúpidas. Nesse lugar, deixaste de saber sonhar com um mundo cá fora, conseguiste que a morte superasse a vida… a tua vida.
Lembro com carinho o teu olhar! Sentia-me sempre protegida quando estavas comigo…nada sucedia de mal.
Sempre caminhaste no limite da vida, até que ela te atraiçoou… lamento tanto a tua partida João…tanto.
Apetece-me chamar-te nomes horrendos, mas a única coisa que me ocorre é a palavra…amigo. De ti, só posso recordar essa grande cumplicidade e afecto mútuo.
Hoje…hoje queria um charro feito por ti… queria que me dissesses novamente como se fuma …e, queria dizer-te o que sentia. Depois disto, ouvir as tuas e as minhas gargalhadas, beber vodka na Donald, passar horas a conversar no IT, juntarmo-nos aos nossos 330 amigos mas que se resumiam na verdade a dois ou três …e acabarmos no bar habitual até de manhã.
Hoje queria que fosse assim novamente…porque se assim fosse, estarias ainda aqui.
Vivias num mundo onde eu não queria viver, mas de vez em quando entrava nele e acompanhava-te. Alguns actos menos próprios alinhei contigo…outros recusava, porque gostava mais de mim. Era sempre só essa vez…e a seguir a essa vinha mais uma, outra e outra… até que, já não existem mais vezes.
O teu vício levou-te para espaços onde a saída era minúscula, conseguiste a proeza de morrer com todas as doenças que advém dele. De que cor foi o teu céu antes de partires? Seria colorido como o das vezes em que era “só mais esta vez”?! Acho que sempre foi cinzento João…e nunca multicolor.
Vou-te recordar, até ao momento em que não havia essa famosa frase irritante ”só desta vez apenas”, esse é o tempo que quero lembrar-te. Um João sem vícios!
Estejas onde estiveres…um beijo.

Tila de Oliveira