domingo, 6 de janeiro de 2008

As ruas da minha vila...


É nas ruas da minha vila que sinto a calçada sorrir para mim, quando o passar dos meus passos deslizam sobre elas.
Embora corroída e envelhecida pelo decorrer dos tempos, é só nas minhas ruas com calçada de paralelos lisos que o tempo danificara… que me reconhecem.
Essas ruelas de cor cinzentas ainda encobrem os becos onde brinquei, mas que outrora tinham outra cor.
Quando palmilho aquelas vielas…“sinto” que todo aquele cenário se inclina para mim, como se estivessem a darem as boas vindas. As casas desabitadas pelas gentes que já morreram têm vida quando olho para elas, e por momentos “vejo” essas mesmas figuras no lado de lá das janelas. O meu pensamento vai até esse tempo que o próprio tempo levou…mas que não aboliu da minha memória.
Nessas ruas já um tanto desertas e com calçada envelhecida, sei de cor os locais onde me refugiava para pensar no meu futuro…nas promessas que fiz a mim mesma.
Sei o lugar, onde imaginava á minha maneira um mundo fora dali…ainda sei, todos os pensamentos que tive em cada recanto da minha rua! As certezas e incertezas, as duvidas, os sonhos…tudo se mantém e mesmo as gerações subsequentes nunca irão conseguir “roubar” os meus sítios, porque eles também “pertencem” a uma menina que ali nasceu e brincou naquelas calçadas onde outras brincam agora.
Nessas lajes estão gravadas palavras invisíveis que escrevi com o meu pensamento, parece que ainda vejo as “minhas ânsias” da altura, épocas onde queria conhecer muito mais realidades para além daquilo que via…o fundo da rua era o fundo daquele mundo… mas, com persistência alojava o olhar dentro da minha imaginação e juntos sobrevoavam todas as ruas da minha vila…na busca de outras avenidas…
Os postes de electricidades eram “a minha luz” mais longínqua…e hoje estão aqui tão perto de mim…
Olhava para a claridade deles e parecia tão forte e difícil de tocar…hoje vejo que é fraca e fácil de alcançar…
Nessa luz punha o meu futuro sem medo ou receio, porque nunca tinha visto outra para além daquela…a não ser a luminosidade do sol…mas essa “luz” era uma ilusão.
Em alguns dos meus espaços, outras existências foram construídas… mas nunca aniquilaram da minha lembrança esses sítios…e o que contemplo nunca é o que está agora, mas sim, o que se encontrava primeiramente.
Está tudo gravado no lado de lá da minha mente e quando olho para estes “esconderijos” todos são autênticos e reais…
Nas ruas da minha vila ainda oiço o bater da corda na terra batida onde saltava á tarde com os meus amigos…ainda oiço o pedalar da minha bicicleta e o rugido da corrente quando saltava do carreto…recordo o tilintar dos berlindes…a euforia de quando brincava ás escondidas ou á cabra-cega…
O riacho, o riacho que corria pertinho da minha casa já não existe…mas ainda o oiço… consigo visualizá-lo porque a minha memória não deixou falecer as lembranças de tudo aquilo que vivi nas ruas da minha vila…
As ruas da minha vila não são como as da cidade…por isso a torna tão especial, singular…e tão minha!


Tila de Oliveira

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